quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O peso da obesidade


Meninas-Brasil - (Ondina, em Salvador). Obras de Eliana Kértesz.
O americano Allen Steadham, fundador de uma ONG que promove a criação de leis que visam garantir os direitos dos obesos nos Estados Unidos diz, literalmente: "
"As pessoas enxergam o gordo como responsável pelos próprios males. É como se a sociedade dissesse que quem quer ser tratado com respeito deve emagrecer, quando na verdade todo ser humano merece ser respeitado, independentemente de seu tamanho".
 Nos Estados Unidos os gordos continuam sendo vistos como cidadãos de segunda classe, mas já exibem um grande poder político.  Enquanto isso, no Brasil, a comunidade GG, como eles se autodenominam, começa a se articular para brigar pelo direito de serem como são, em todas as suas dimensões volumosas, como nas esculturas de Eliana Kértesz.

Uma das antigas militantes do movimento no Brasil, é Denise Neumman, 40 anos, 130 quilos e 1,61 metro. Ela lançou a Magnus Corpus – corpo grande, em latim. Trata-se de um grupo voltado principalmente para ajudar quem sofre discriminação no trabalho. Ela afirma:
“Ninguém quer contratar um gordo. Acham que eles são preguiçosos, lentos e sem força de vontade.”
Outra que estende sua luta, há um bom tempo, é a publicitária e fotógrafa Kátia Ricomini – 27 anos e 140 quilos distribuídos em 1,65 metro. Ela lançou, na internet, uma revista virtual, a Criatura GG, para espalhar denúncias de intolerância contra os obesos. Como uma espécie de missionária, promove encontros com outras pessoas obesas e busca reativar a auto-estima de suas parceiras, convocando-as a enfrentar a exposição pública e a discriminação no trabalho. Entre suas bandeiras está o combate à onda de dietas, muitas vezes oportunistas e perigosas. Há alguns anos, conseguiu a façanha de atingir quase mil visitas diárias e se tornou fotógrafa exclusiva de bonitas modelos rechonchudas. Atenta a tudo que envolve o tema, cobra das autoridades a execução de leis que são pouco usuais, como as que permitem que as pessoas mais gordas entrem nos ônibus pela porta da frente, evitando a catraca e o constrangimento. A lei vigora em cidades como Porto Alegre, Santos e São Paulo.

As manifestações preconceituosas estão por toda a parte e levam a pessoa que está acima do peso a passar constrangimentos e, por mais autoestima que se possua, é sempre estressante saber-se olhado e comentado negativamente. A mensagem social construída a respeito de ser gordo, no século XXI, é clara: ser gordo é ruim! Há uma mensagem subliminar no sentido de que a obesidade é uma questão de escolha e que só é gordo quem quer. Tal afirmação mostra, no mínimo, ignorância sobre o assunto. Quem não sabe o que significa a obesidade, tende a considerar que é necessário apenas autocontrole para manter-se magro, como se fosse simples assim...  A pessoa é, pois, culpada por ser gorda.

Na realidade, este é um assunto multifatorial, envolvendo diferentes campos e abordagens como o físico, o psíquico, o ambiental e/ou genético. A obesidade é o resultado também, de diversos obstáculos psicológicos – internos, relacionais, comportamentais e psicossociais – não implicando necessariamente restrições físicas.

É notório que o sobrepeso e a obesidade trazem sérios riscos à saúde; tais riscos entretanto, são muitas vezes utilizados para mascarar o forte preconceito e discriminação contra o gordo. Cobra-se magreza e sujeição a um ideal estético cada vez mais difícil de atingir...

É importante aprender a abordar o assunto e expor aos obesos os caminhos possíveis para lidar com a questão. Inicialmente é necessário saber que a obesidade não se trata, necessariamente, de excesso de comida, pois outros fatores podem gerar a causa como socioculturais, genéticos, endócrinos e metabólicos. Assim, aceitar a obesidade e suas complicações implica em conviver conscientemente com o excesso de peso e suas consequências. Ao conscientizar-se, torna-se imperioso optar por um tratamento que garanta um aumento qualitativo da sobrevida, com a modificação do estilo de vida, dos hábitos alimentares, da atividade física e do relacionamento com a vida.

Enfim, vê-se que as pessoas gordas não são discriminadas por terem a saúde comprometida; elas são discriminadas porque sua gordura é vista como uma falha do caráter, o que, obviamente, não tem nada a ver!

http://www.sociedadeinclusiva.pucminas.br/sem4/145.pdf

Nenhum comentário:

Postar um comentário