quarta-feira, 4 de novembro de 2009

PARANGOLÉS


1968 - Caetano Veloso e Parangolé de Hélio Oiticica
"Na realidade a sucessão de obras é para fazer inteligível o que eu sou. Eu passo a me conhecer através do que faço. Que na realidade não sei o que sou. Porque se é invenção eu não posso saber. Se já soubesse o que seriam essas coisas não seria mais invenção. A existência delas é que possibilita a ‘concreção’ ". (Hélio Oiticica).

O acervo de um dos fundadores do neoconcretismo, do pintor e escultor Hélio Oiticica, falecido em 1980,  se queimou na madrugada de 17/10,  na casa da família, no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.  Perdeu-se 90% das obras do artista que não estavam seguradas; só se salvaram CDs e arquivos de computador. E lá se foram todos os parangolés. Queimou-se o Tropicalismo, a idéia do Brasil novo, a possibilidade do inédito, do eterno velho Brasil renovado...

Parangolé são capas, estandartes, bandeiras para serem vestidas ou carregadas pelo participante de um happening. As capas são feitas com panos coloridos (que podem levar reproduções de palavras e fotos) interligados, revelados apenas quando a pessoa se movimenta. A cor ganha um dinamismo no espaço através da associação com a dança e a música. A obra só existe plenamente, portanto, quando da participação corporal: a estrutura depende da ação. A cor assume, desse modo, um caráter literal de vivência, reunindo sensação visual, táctil e rítmica. O participante vira obra ao vesti-lo, ultrapassando a distância entre eles, superando o próprio conceito de arte.

Ao vestir o Parangolé o corpo não é o suporte da obra. Oiticia diz que se trata de "incorporação do corpo na obra e da obra no corpo". Nessa espécie de anti-arte, diz Oiticia, "o objetivo é dar ao público a chance de deixar de ser público espectador, de fora, para participante na atividade criadora".

Assim, com o Parangolé Oiticia propõe ao espectador (agora participante) em lugar de meramente contemplar a cor, vestir-se nela. Este simples ato, que libera o participante do domínio da sensação visual, produz uma "maravilhosa sensação de expansão", criada pela incorporação dos elementos da obra numa vivência total do espectador.

Parangolé, portanto, não é uma "obra", mas o "lugar" no qual a experiência artística se funda. Seu objetivo é uma intensificação da vida, da agitação do pulso, da batida do coração, levando o indivíduo a trocar a percepção artística pela expressão artística.
 
Assista:
FONTE: http://www.omartelo.com/blog/tag/comentarios/

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