terça-feira, 10 de novembro de 2009

POETRIX: o Salto, o Susto e a Semântica (Goulart Gomes)


"...penso no poetrix perfeito como um pequeno projétil
que nos atinge direto num órgão vital". (Sara Fazib).
Há quem veja as artes minimalistas – entre elas, o Poetrix – como artes menores. Como se fosse possível medir o valor de todas as pedras preciosas por seus tamanhos. Um cristal grande vale menos que um pequeno diamante e mesmo dois diamantes de igual tamanho podem ser avaliados diferentemente. Existem poetrix que valem mais que extensos poemas como, também, muitos deles não precisariam terem sido escritos. Dentre os vários elementos que podem aumentar ou diminuir os "quilates" de um poetrix, eu gostaria de falar, neste artigo, sobre três deles: o Salto, o Susto e a Semântica.

A cena é recorrente, o cinema hollywoodiano dela usa e abusa: o herói (ou vilão) está em fuga. Em sua perseguição, o inimigo. Após inúmeras infrutíferas tentativas de escape, surge o obstáculo: um abismo, uma ponte quebrada, o teto de um edifício, uma estrada inacabada. O que fazer? Morrer ou morrer? O protagonista da cena escolhe o risco. “A possibilidade de arriscar é que nos faz homens”, segundo o poeta baiano Damário Dacruz. Salta... para a salvação. O mesmo acontece com alguns poetrix.

Por ser um texto breve, isso não quer dizer que ele deva ser lido com brevidade. É preciso querer-se captar as suas nuances, as pequenas particularidades de cada palavra, desde o título e a cada verso. Ele também tem o seu ritmo e intensidade próprios, possibilitados pela livre distribuição das sílabas em cada linha, conquanto não venham a ultrapassar o máximo de trinta sílabas. Existem poetrix que encaminham-se lentamente para o seu final como quem irá desencarnar por morte natural e, de repente, o Salto! Observem como isso foi bem elaborado por Sara Fazib (SP) no poetrix CARA METADE:

melhor par não faria
eu e essa minha falta
de companhia

ou em SONSAS, de Lílian Maial:

Estrelas
não dizem a verdade.
Elas piscam.

e ainda em GRÁVIDA, de Pedro Cardoso (DF):

No corpo da menina
a barriga cresce
como uma boca faminta

O Salto, no poetrix, subverte. O texto dialoga consigo mesmo, opõe-se, contrapõe-se, quase nega-se e, nessa dialética, ressuscita.

Fonte: http://www.movimentopoetrix.com/visualizar.php?idt=274573

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