domingo, 4 de abril de 2010

POR UM DEUS MAIS AMIGO

Por Walter Queiroz Jr.

"Ressuscitai, senhor, em nós, o espírito do tempo em que o Sábado de Aleluia  era uma grande festa, a mesa era farta e os sinos repicavam de esperança e alegria.

A vitória sobre a morte deste ser extraordinário, chamado Jesus, será sempre o máximo acontecimento da nossa história e nenhuma outra data há de merecer tanto regozijo. Entretanto,  sempre me intrigou a malhação do Judas, ou seja, o espancamento dos bonecos-símbolo do infausto apóstolo e praticado pelo mundo afora.

Além da descarga de alta agressividade neste linchamento metafórico, ignora-se a crucial questão: O Cristo se cumpriria sem a traição do Iscariotes? Não será o Judas, como seu próprio nome lembra, o representante de uma velha tradição que o mestre veio abolir pelo perdão? Não será Judas um ator imprescindível para o epílogo da tragédia cristã?
                                       Imagem: magonia.haaan.com/.../01/Judas-Iscariot_wa.jpg
Quando, no seu momento mais dramático, o nazareno questiona o cálice, ele apenas chora o seu destino para, em seguida, honrar, gloriosamente, a divina vontade do seu Pai. Poderia, então, Judas recusar a sua execrável missão sem contrariar superior desígnio? [...]

Tornei-me um crente sem templo, nem dízimo, que bebe vinho como o Mestre gostava de fazer, que cultiva a compaixão, canta, dança e recusa-se a acreditar num Deus autoritário, capaz de suprema crueldade de condenar suas próprias criaturas ao fogo eterno.
                                                              KLIMT
Os católicos estão vivendo a dolorosa experiência de constatar a falibilidade do seu chefe supremo. Por que não aproveitar a crise para a reavaliação de dogmas e atitudes como o celibato que deveria ser uma opção e não uma obrigação? Todos temos um Judas interior que pode ou não passar ao ato, mas graças a Deus, qualquer um pode fundar uma igreja no seu próprio coração. Aleluia, Salvador!"

Texto completo: Jornal A Tarde, Caderno A3. Salvador, 03/4/2010.

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