quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Enquanto sobrevalorizamos o nosso conhecimento do mundo, subestimamos, simultaneamente, o nosso talento para tirar proveito das surpresas. E isso não deixa de ser surpreendente, até porque o ser humano se caracteriza, ao contrário de todas as outras criaturas, pela sua extraordinária capacidade de conseguir o melhor num ambiente inseguro.
                                                         Ballerina - Miró
Até por isso, temos todas as razões para confiarmos em nós, perante um mundo em constante transformação. Podemos dar-nos o luxo da serenidade. O nosso mais importante utensílio no relacionamento com a incerteza é a atenção. Quanto mais cedo e mais rigorosamente nos apercebermos conscientemente das transformações, tanto melhor podemos calcular os riscos e reconhecer as oportunidades.

Uma concentração unilateral nos planos contraria esta estratégia, porque absorve demasiada atenção. Como John Lennon disse uma vez, a “vida é aquilo que acontece enquanto nós fazemos outros planos”. Assim, os acasos obrigam-nos a abandonarmos os castelos de ar que construímos nas nossas cabeças e a entrar no campo da realidade.
Por isso, conceder ao imprevisível mais espaço nas nossas vidas não é apenas uma aventura. Esse processo também nos transforma. A percepção torna-se mais aguda e adquirimos uma outra noção do tempo: o acaso ensina-nos a estarmos atentos. Nisso consiste a grande vantagem que ele nos oferece. As surpresas tornam-nos sensíveis à realidade. E não será o agora tudo o que temos?
Abrir as portas ao acaso significa estar vivo.
KLEIN, Stefan. Como o acaso comanda as nossas vidas.

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