terça-feira, 3 de novembro de 2009

LÉVI-STRAUSS: "Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo..."

Foi anunciada nesta terça-feira (3/11) a morte do antropólogo Claude Lévi-Strauss. A informação é da editora do intelectual, pela qual o falecimento teria ocorrido entre sábado e domingo. Criado em Paris, ele nasceu em Bruxelas em 28 de novembro de 1908. Fundador da Antropologia Estruturalista, é considerado um dos intelectuais mais relevantes do século 20.

Membro de uma família judia francesa intelectual, Lévi-Strauss estudou Direito e Filosofia na Sorbonne, em Paris. Lecionou sociologia na recém-fundada Universidade de São Paulo (USP), de 1935 a 1939, e fez várias expedições ao Brasil central.  Ali passou breves períodos entre os índios bororós, nambikwaras e tupis-kawahib, experiências que o orientaram definitivamente como profissional de antropologia.

“De vez em quando surgem estrelas que brilham, sobretudo porque trazem algo de radicalmente novo. Mas ele trouxe uma maneira original de conceber o mundo e de conceber a análise do mundo. Essa visão de uma forma universal do pensamento humano faz dele único”. Françoise Héritier, antropóloga.
Em nota oficial da USP, por conta de sua morte, a professora Sylvia Novaes, do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP lembrou que “a Universidade de São Paulo foi o início de uma carreira brilhante. Tivemos o privilégio de acolher Claude Lévi-Strauss”. E, observa ainda que foi no Brasil que ele se decidiu pela antropologia: “Ele ficou fascinado pelas populações indígenas que encontrou na viagem que fez pelo País. Após 20 anos dessa viagem, em 1955, publicou Tristes Trópicos, onde percebemos que ele era um jovem apaixonado pelas coisas que encontrou ao longo desta viagem.”

Além da importância internacional, Lévi-Strauss também foi essencial para o desenvolvimento do pensamento brasileiro. Foi um dos fundadores do departamento de Ciências Sociais da ainda recém-fundada Universidade de São Paulo (USP), onde lecionou entre os anos de 1935 e 1939. A contribuição com a formação intelectual do Brasil foi respondida à altura, por uma experiência que marcou toda a vida de Lévi-Strauss: foi aqui que o pensador iniciou seu estudo sobre os índios, despertando sua vocação para a antropologia.

Fez parte do círculo intelectual de Jean Paul Sartre (1905-1980), e assumiu, em 1959, o departamento de Antropologia Social no College de France, onde ficou até se aposentar, em 1982. Lévi-Strauss passou mais da metade de sua vida estudando o comportamento dos índios americanos. Jamais aceitou a visão histórica da civilização ocidental como única. Enfatizava que a mente selvagem é igual à civilizada.

A maior referência de sua obra intelectual é As estruturas elementares do parentesco, livro de 1949, que se tornou marco fundador da antropologia estrutural, teoria segundo a qual os processos sociais são originários de estruturas fundamentais que são frequentemente não-conscientes.

Para a doutora em Antropologia Social, Beatriz Perrone-Moisés, tradutora de muitas de suas obras, o antropólogo deixa como herança profundas lições de respeito pelo pensamento dos povos “ainda chamados primitivos, em especial pelo dos povos indígenas das Américas”. Ela lembra ainda que Lévi-Strauss defendeu o respeito pelas diferenças culturais, “sem as quais a criatividade humana cessa”.Aos 97 anos, em 2005, recebeu o 17º Prêmio Internacional Catalunha, na Espanha. Declarou na ocasião: "Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter presente".

Para Lévi-Strauss, as regras pelas quais as unidades da cultura se combinam não são produto da invenção humana e a passagem do animal natural ao animal cultural - através da aquisição da linguagem, da preparação dos alimentos, da formação de relações sociais, etc - segue leis já determinadas por sua estrutura biológica.

Ele, que afirmava que "o homem é uma espécie passageira que deixará apenas alguns traços de sua existência quando estiver extinta", se equivocou. Ele, como  pensador,  deixou, para a humanidade, livros e ideias que estarão presentes eternamente.
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Bibliografia publicada no Brasil:
As Estruturas Elementares do Parentesco (Vozes, 2003)
Antropologia Estrutural (Vol. 1 e 2) (Cosac Naify, 2008)
O Pensamento Selvagem (Papirus, 2005)
O Cru e o Cozido - Mitológicas (Cosac Naify, 2005
Do Mel às Cinzas - Mitológicas (Cosac Naify, 2005.
A Origem dos Modos à Mesa - Mitológicas (Cosac Naify, 2006)
O Homem Nu - Mitológicas (Cosac Naify, 2009)

FONTES:
http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,MUL882179-7084,00-LEVISTRAUSS+CHEGA+AOS+ANOS+LUCIDO+E+ATUAL.html
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/11/03/e031120186.asp
http://caderno2mais.atarde.com.br/

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