sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Uma Cidade-sol lamurienta...


Jequié, habitada por um povo gentil e hospitaleiro, cercada de morros azuis, está lamurienta, aos 112 anos de emancipação política. É o que se percebe ao ouvir as pessoas nas ruas, nas rádios, nas escolas, nas rodas de amigos...

Difícil é "puxar o rosário" das lamúrias, mas vamos tentar: a começar pelo trânsito - motos, carros, animais e  pessoas coexistem no meio de um sistema viário, caótico, de sinaleiras que não funcionam bem e ajudam a aumentar os acidentes (de motos, muitos!), de motoristas e motaxistas que não sabem o significado do respeito às faixas de pedestres, dos buracos nas ruas abertos pela EMBASA e tapados, desrespeitosamente, com terra; da péssima qualidade do piso na reinaugurada Praça Ruy Barbosa, do aumento crescente do tráfico de drogas e de drogados, do importante transporte escolar, da zona rural, ameaçado pelas tramas da burocracia municipal, do calor escaldante, em plena primavera, carente de árvores frondosas.

E eu, que a escolhi como um canto pra (sobre)viver, fico a refletir no que é possível realizar, além de lamuriar...

Penso que já é tempo de deixar as queixas vazias de ação e se sentir capaz de pedir, sugerir e exigir, aos gestores públicos, sem parar - seja pelas Rádios, por e-mail, por telefone ou, até pessoalmente, uma cidade mais digna de se viver. Afinal, cabe a quem recebe salários oriundos de nossos impostos (e, alguns, que salários!),  executar de modo adequado os serviços públicos, executar com responsabilidade e sensibilidade a sinfonia da cidade a tempo e à hora! É preciso atentar que a gestão pública deve estar voltada às questões mais amplas de boa governança e isso envolve a proteção dos direitos humanos.

Falar nisso, o município de Jequié necessita, dentre muitas coisas, de mais humanização: que bom seria se houvesse um corredor verde, arborizado, que cruzasse todo o espaço comum daqueles que convivem com os 40 (às vezes mais) graus, do verão eterno dessa Cidade-sol! Não apenas feito de espécies nativas, cultivadas em viveiros, também de árvores frutíferas a formar um amplo cinturão verde no seu entorno. Certamente amenizaria o clima, transformando-a numa cidade mais aprazível.  
 
E a poluição sonora? É um absurdo conviver com a quantidade de decibéis a que estamos expostos diariamente. É claro que todos precisam sobreviver, mas é preciso  fiscalizar a aplicação do regulamento nesse setor.

Por fim, de um modo geral, existe um ar de cumplicidade pela omissão para a marginalidade, em especial aquela ligada ao tráfico e consumo de drogas ilícitas. Os órgãos de imprensa, apontam, reiteradamente, as organizações de tráfico e os focos de consumo. Onde a dificuldade de coibir? Há famílias de viciados a pedir socorro e parece existir um acordo tácito no sentido de cultivar a impotência e a indiferença face a tão grave problemática. Este é um grande flagelo da sociedade contemporânea e mereceria um tratamento muito especial dos poderes públicos, além da mobilização da sociedade jequieense, como um todo.

Pra não dizer que não falei de flores, é consolador saber que existem os picolés do Cine Auditorium, uma praça repleta de encontros com gente especial em  noites frescas e estreladas da caatinga, manhãs ensolaradas e claras, a sonoridade do sino da igreja da Matriz a cada quinze minutos, o filé RTI do Besourão, o entardecer na varanda elevada do Empório, o suco de milho de Nildete e a pizza de Beto e Ró, além dos papos com Raul, no Bokão, no avançar da madrugada...

Êh, Jequié, Jequié...
                                                Jussara Midlej, 2009.

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