Jequié, habitada por um povo gentil e hospitaleiro, cercada de morros azuis, está lamurienta, aos 112 anos de emancipação política. É o que se percebe ao ouvir as pessoas nas ruas, nas rádios, nas escolas, nas rodas de amigos...
Difícil é "puxar o rosário" das lamúrias, mas vamos tentar: a começar pelo trânsito - motos, carros, animais e pessoas coexistem no meio de um sistema viário, caótico, de sinaleiras que não funcionam bem e ajudam a aumentar os acidentes (de motos, muitos!), de motoristas e motaxistas que não sabem o significado do respeito às faixas de pedestres, dos buracos nas ruas abertos pela EMBASA e tapados, desrespeitosamente, com terra; da péssima qualidade do piso na reinaugurada Praça Ruy Barbosa, do aumento crescente do tráfico de drogas e de drogados, do importante transporte escolar, da zona rural, ameaçado pelas tramas da burocracia municipal, do calor escaldante, em plena primavera, carente de árvores frondosas.
E eu, que a escolhi como um canto pra (sobre)viver, fico a refletir no que é possível realizar, além de lamuriar...
Penso que já é tempo de deixar as queixas vazias de ação e se sentir capaz de pedir, sugerir e exigir, aos gestores públicos, sem parar - seja pelas Rádios, por e-mail, por telefone ou, até pessoalmente, uma cidade mais digna de se viver. Afinal, cabe a quem recebe salários oriundos de nossos impostos (e, alguns, que salários!), executar de modo adequado os serviços públicos, executar com responsabilidade e sensibilidade a sinfonia da cidade a tempo e à hora! É preciso atentar que a gestão pública deve estar voltada às questões mais amplas de boa governança e isso envolve a proteção dos direitos humanos.
Falar nisso, o município de Jequié necessita, dentre muitas coisas, de mais humanização: que bom seria se houvesse um corredor verde, arborizado, que cruzasse todo o espaço comum daqueles que convivem com os 40 (às vezes mais) graus, do verão eterno dessa Cidade-sol! Não apenas feito de espécies nativas, cultivadas em viveiros, também de árvores frutíferas a formar um amplo cinturão verde no seu entorno. Certamente amenizaria o clima, transformando-a numa cidade mais aprazível.
E a poluição sonora? É um absurdo conviver com a quantidade de decibéis a que estamos expostos diariamente. É claro que todos precisam sobreviver, mas é preciso fiscalizar a aplicação do regulamento nesse setor.
Por fim, de um modo geral, existe um ar de cumplicidade pela omissão para a marginalidade, em especial aquela ligada ao tráfico e consumo de drogas ilícitas. Os órgãos de imprensa, apontam, reiteradamente, as organizações de tráfico e os focos de consumo. Onde a dificuldade de coibir? Há famílias de viciados a pedir socorro e parece existir um acordo tácito no sentido de cultivar a impotência e a indiferença face a tão grave problemática. Este é um grande flagelo da sociedade contemporânea e mereceria um tratamento muito especial dos poderes públicos, além da mobilização da sociedade jequieense, como um todo.
Pra não dizer que não falei de flores, é consolador saber que existem os picolés do Cine Auditorium, uma praça repleta de encontros com gente especial em noites frescas e estreladas da caatinga, manhãs ensolaradas e claras, a sonoridade do sino da igreja da Matriz a cada quinze minutos, o filé RTI do Besourão, o entardecer na varanda elevada do Empório, o suco de milho de Nildete e a pizza de Beto e Ró, além dos papos com Raul, no Bokão, no avançar da madrugada...
Êh, Jequié, Jequié...
Jussara Midlej, 2009.
Por fim, de um modo geral, existe um ar de cumplicidade pela omissão para a marginalidade, em especial aquela ligada ao tráfico e consumo de drogas ilícitas. Os órgãos de imprensa, apontam, reiteradamente, as organizações de tráfico e os focos de consumo. Onde a dificuldade de coibir? Há famílias de viciados a pedir socorro e parece existir um acordo tácito no sentido de cultivar a impotência e a indiferença face a tão grave problemática. Este é um grande flagelo da sociedade contemporânea e mereceria um tratamento muito especial dos poderes públicos, além da mobilização da sociedade jequieense, como um todo.
Pra não dizer que não falei de flores, é consolador saber que existem os picolés do Cine Auditorium, uma praça repleta de encontros com gente especial em noites frescas e estreladas da caatinga, manhãs ensolaradas e claras, a sonoridade do sino da igreja da Matriz a cada quinze minutos, o filé RTI do Besourão, o entardecer na varanda elevada do Empório, o suco de milho de Nildete e a pizza de Beto e Ró, além dos papos com Raul, no Bokão, no avançar da madrugada...
Êh, Jequié, Jequié...
Jussara Midlej, 2009.
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