sábado, 28 de agosto de 2010

"Mestre carpina responde a Severino sobre o fato de ele "saltar fora da ponte e da vida" - cometer suicídio. Ele diz que não tem resposta para ele, mas a própria vida o respondeu, com o nascimento de seu filho (o do mestre carpina), mesmo sendo uma vida franzina e severina:
— Severino, retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida
como a de há pouco, franzina
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."

Morte e Vida Severina foi escrito em 1954/55, por encomenda de Maria Clara Machado, então diretora do grupo teatral de O Tablado.
Colaboração de Liz Midlej

Um comentário:

  1. Valeu, mãe! Obrigada pela citação! Eu estava no trabalho e "por acaso" me veio à mente aquele quadro da velhinha na janela... Busquei e achei. Bela poesia!!! Beijos!

    ResponderExcluir