domingo, 12 de dezembro de 2010

NINGUÉM É TODO MUNDO

                                                   Cores - Aveiro

Ildásio Tavares (1940-2010)

Todo mundo sabe que vai ser condenado
só não sabe porquê -- e quando sabe
de nada adianta: quem advoga em
causa própria tem um tolo
por cliente; quem advoga por outrem
ao menos perde pouco. Todo o mundo
está em franca paranóia - o julgamento
é aqui, na comarca primeira de si mesmo:
não há a menor chance, por isso
deixamos a esperança quando entramos;
penduramos o casaco num cabide
a atiramos nossos sonhos
na primeira cesta de lixo da esquina,
para maior realismo da realidade.

Todo o mundo sabe que vai morrer um dia
para as lágrimas de alguns e a
alegria de outros. Cada um que
prepare seu enterro - viver é descobrir
o caminho da morte, e lá chegar sem
medo - a morte não existe; o medo
sim, eis a questão. Monotonamente
continuamos a conversar, enquanto ela
não vem - a música está soando, acordes lentos,
graves. A música está soando - é música
instrumental, ó meu tesouro: prepara-te
nunca é cedo demais para morrer;
nunca é tarde demais para viver:
o amor é breve.

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