quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Caminhando com Maiakovsky

Na primeira noite, eles aproximam-se
e colhem uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam o nosso cão.
E não dizemos nada.

Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.

Eduardo Alves

Um comentário:

  1. Este poema é maravilhoso!
    Consegue sintetizar toda a brutalidade da opressão e das maquinações escuras do Poder.
    Recitava ele com meu grupo de poetas, lá nos idos dos anos noventa.
    Tenho inclusive este livro e sei da celeuma atribuindo este poema, erroneamente, a Maiacoviski.
    Bom trazê-lo, aqui.

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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