segunda-feira, 29 de novembro de 2010

"VIVER DA MORTE, MORRER DA VIDA"

                                        Imagem: http://issoebossanova.blogspot.com/
Na simultaneidade do nascimento e da morte a expressão inquietante do filósofo  Heráclito, acima, resume os dois planos da vida, em especial a sua efemeridade. Traz à pauta o mistério de suas múltiplas dimensões. A morte, ao não anular a vida, atravessa-a. Diante de sua presença, instaura-se uma abertura para os momentos que se foram: são marcas que  inquietam e reverberam - insistem em permanecer pelo tempo que se segue... 

Ao envolver  o acidental do acontecimento, a interrupção da trajetória humana acende um lume para as marcas de empatia contidas na pessoalidade de quem se foi deste palco: de ordinária, a vida se transmuta em extraordinária e faz refletir... nos corredores, os encontros havidos - e que agora se apresentam de modos inusitados - ganham renovadas afecções e passam a ressoar, nas almas, pelo tempo vindouro e por aí afora...

A partir desse domingo, com a partida prematura do colega Sarmento, as lembranças de efêmeros encontros desassossegam e ficam a reverberar nas tramas subjetivas de  quem com ele entrecruzou - parecem querer demonstrar-nos  que nossa humanidade necessita ser mais humana e menos apressada nas relações com a cotidianeidade da vida.

A  inquietação que envolvia a aura do colega, de modo brusco, concita-nos a  pensar nas possibilidades de redesenhamentos da vida em grupo.

É verdade: a empatia está na ordem mais direta do dia!

Jussara Midlej

4 comentários:

  1. linda reflexão! e vejo como na partida, Sarmento, nos aproximou como grupo. Que possamos ser essa familia mencionada por Matos hoje de manhã.

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  2. Tânia Regina Braga Torreão Sá30 de novembro de 2010 às 08:45

    O texto sobre Sarmento que eu postei no meu blog está a sua inteira disposição, e do seu esposo também, porque depois que eu o publiquei, não posso mais deixar de pensar nele como ideias e emoções que se colocam para o mundo. Abro mão, pois, da propriedade intelectual do mesmo, porque desejo o mais possível, apresentar a todos, o quanto ainda fomos privilegiados por conviver com um homem como Manoel Soares Sarmento Filho. Quando o escrevi, procurei deixar o meu sentimento mais verdadeiro incorporar-se a minha escrita. Procurei descrever o ser humano de natureza dócil, bom, que se apresentava diante de mim e da minha família, bem como, procurei apresentar também, o homem que eu não conheci: ávido por escarafunchar o submundo e se embrenhar em suas "margens". Ainda fazendo uma reflexão comprometida pelo sentimento de saudade e de perda, acho outras identidades/alteridades para o nosso amigo Sarmento. Tal qual Quincas, Sarmento se assemelha também a Michel Foucault, que desce aos subterrâneos de Paris, para "encavar" as "mundanidades" de tal universo: cerca-se por michês, prostitutas e travestis. Adora as perversões fetichistas (sado masoquistas) do sexo. Enfim, tal qual Quincas e Foucault, Sarmento não se furtava de nada que lembrasse o conta-gotas das emoções que regulam a nossa passagem por essa vida tão "bancária", e, por isso, ainda que esteja ressentindo-me por uma dor que "[...] é o revés do parto [...]", reanimo-me. Tenho certeza que me recomporei brevemente, porque quando aplacar a saudade, estarei convencida que Sarmento morreu de tanto viver...e, ao seu modo, FOI FELIZ como poucos sabem ser.

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  3. Cara amiga Jussara; só você para escrever esta bela reflexão em homenagem ao nosso colega, e querido amigo; por estar doente optei por não ir ao velório; no entanto presthei-le minhas reverências no IML até a saída do corpo para o Wally, junto com a colega e amiga professora Jussara Camilo. Sarmento, agora ser espiritual, encantou-se; pessoas como ele não morrem; e mesmo vivenciando a Kundalini, (porquê em emergência espiritual, de que nos fala o grande neurofisiologista escritor Stanislav Groff), não deixou de ser ético, competente, comprometido e humano no trato com os outros.

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  4. Lindo , lindo . nunca vi algu tão lindo ! Eu estou lizongilada yeah

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